Depois da Rússia, o Brasil? O Que o Fracasso das Sanções à Rússia Ensina ao Brasil Frente às Tarifas dos EUA
A Nova Guerra Econômica Global: Como o Brasil Pode Responder às Tarifas Americanas
📖 O anúncio das sanções à Rússia (2022)
Em 2022, o Ocidente lançou uma campanha de sanções econômicas contra a Rússia como uma "arma econômica infalível" — prometendo isolar completamente o país, colapsar sua economia e forçar uma retratação na guerra da Ucrânia. A narrativa dominante retratou essas sanções como o golpe de misericórdia que finalmente dobraria Vladimir Putin.
🌍 A transição para o presente: o Brasil entra no palco da geopolítica comercial
Hoje, uma situação semelhante se desenrola, mas com um novo protagonista: o Brasil. Em 9 de julho de 2025, o presidente Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, com vigência a partir de 1º de agosto.
O impacto será brutal: a medida se soma às tarifas existentes de até 25% sobre aço e alumínio — um golpe direto em setores estratégicos onde os EUA compraram 39–41% das exportações brasileiras em 2024, principalmente aço e alumínio com valor acumulado de bilhões de dólares.
🔍 Contextualização econômica e diplomática
As tarifas já em vigor, de 25% sobre aço e alumínio, devem reduzir as exportações brasileiras desses setores em cerca de 11%, com queda de produção na ordem de 2% e perda estimada de 700 mil toneladas — segundo o Ipea.
A elevação para 50% ameaça um prejuízo de US$ 1,6 bilhão em exportações — apenas no setor de metais — além de impactar a mineração, bens agrícolas e ainda desencadear investimentos perdidos estimados em US$ 68 bilhões até 2029.
1. A Nova Guerra Econômica Global do Século 21
Então a questão central se impõe: se as sanções à Rússia falharam em atingir seus objetivos, por que o Brasil deveria simplesmente temer as tarifas — e não aprender com a experiência russa?
Afinal, essas medidas americanas vão além da economia: incorporam retaliações políticas, como o julgamento de Bolsonaro, acusações de censura à liberdade de expressão e tentativas de coagir o governo brasileiro — ameaças que foram amplamente rejeitadas por líderes brasileiros.
2. As Sanções à Rússia e Por Que Elas Fracassaram
📊 Dados duros: PIB, inflação, emprego e reservas
PIB russo: Após recessão de aproximadamente –1,2% em 2022 (revisado de –2,1%), a economia russa cresceu cerca de 4,1% em 2023, e apresentou outro crescimento surpreendente em 2024, com mais um avanço do PIB de 4,1%.
Inflação e emprego: Apesar dos choques, a inflação foi controlada (ao redor de 6 %) e o desemprego permanecia estável, com crescimento real de salários domésticos em 7,8% em 2023.
Reservas e finanças públicas: Um déficit fiscal moderado (~2 % do PIB), contido com o uso do Fundo de Bem-Estar Nacional, manteve estabilidade macroeconômica.
🔄 Redirecionamento do comércio: China, Índia e Turquia
As exportações de petróleo e gás foram realocadas em larga escala para China e Índia — representando cerca de 90 % do destino das exportações russas de energia em 2023.
Na agricultura, importações europeias despencaram, mas a produção doméstica foi fortalecida: tornou-se quase auto-suficiente em diversos produtos básicos.
Em paralelo, houve aumento de comércio com Turquia e países do BRICS, criando rotas alternativas ao mercado ocidental tradicional.
🔐 Criação de alternativas ao SWIFT: SPFS, MIR e CIPS
Para contornar o banimento de bancos russos do SWIFT, a Rússia intensificou o uso da sua rede própria, o SPFS (System for Transfer of Financial Messages), criado em 2014.
Até janeiro de 2024, já contava com 557 instituições conectadas, incluindo 150 estrangeiras em cerca de 20 países.
O sistema MIR, cartão nacional russo, ganhou escala massiva após a saída da Visa e Mastercard. Em 2023, mais de 287 milhões de cartões MIR foram emitidos e já respondem por ~55–56 % das transações domésticas.
A Rússia também explorou parcerias com o CIPS, rede de pagamentos da China, aproveitando acordos bilaterais para utilizar yuan e rublo em transações, reduzindo ainda mais a dependência do dólar e do SWIFT.
🌐 O papel dos BRICS e a construção de uma arquitetura financeira alternativa
O BRICS deixou de ser apenas um fórum diplomático para se tornar um vetor de construção de infraestrutura financeira própria.
O projeto "BRICS Pay", por exemplo, visa conectar países emergentes a um sistema de pagamentos desacoplado do Ocidente.
A cooperação entre Rússia, China, Índia e outros países ampliou acordos de uso de moedas locais (yuan, rublo, rupia), swaps entre bancos centrais e mecanismos de compensação bilateral, fundando um novo ecossistema financeiro.
✅ Reflexão do bloco
A resiliência da Rússia não foi fruto de um acaso ou exceção — mas sim de uma estratégia clara: revelou a imposição ocidental, diversificou parceiros, construiu infraestrutura paralela (financeira e comercial) e reposicionou sua economia no eixo China–Índia–BRICS.
Essas medidas transformaram as sanções de arma de destruição em catalisadoras da construção de sistemas alternativos, reduzindo a eficácia das sanções e exemplificando um modelo de resistência que pode ser replicado por outras nações.
3. Brasil na Mira: O Novo Alvo do Protecionismo Americano
A volta das tarifas: o que está acontecendo
Em 2024, os Estados Unidos anunciaram a intenção de restabelecer tarifas de até 50% sobre as importações de aço e alumínio do Brasil, reacendendo um embate comercial que muitos pensavam superado.
O argumento oficial é o de "segurança nacional" — o mesmo usado por administrações anteriores, como a de Donald Trump em 2018.
No entanto, o pano de fundo é mais profundo e geopolítico do que técnico: o Brasil começa a deixar de ser apenas um parceiro subalterno e assume um papel de maior protagonismo no Sul Global.
Brasil vs EUA: um histórico de atritos comerciais
O relacionamento comercial entre os dois países já foi marcado por inúmeros conflitos, desde a disputa do algodão na OMC até as restrições sobre o etanol brasileiro e a exportação de carne bovina.
No caso atual, no entanto, o atrito não é apenas setorial: ele se insere num contexto de realinhamento geoeconômico, em que o Brasil aproxima-se cada vez mais da China, dos BRICS e de alternativas ao dólar.
Além disso, os EUA passaram a observar com preocupação o crescimento da capacidade industrial brasileira, especialmente em segmentos como mineração estratégica, produção de aço verde e refinamento de alumínio.
A simples existência de competitividade nesses setores já representa uma ameaça potencial às políticas de reindustrialização do governo Biden, que busca proteger a indústria doméstica antes das eleições.
O Brasil como ameaça "não conformista"
Durante décadas, o Brasil ocupou uma posição confortável no sistema internacional como fornecedor de commodities e recursos primários, quase sempre subordinado ao eixo dólar-Washington. Mas os ventos estão mudando.
A participação ativa do país em fóruns como os BRICS+, a sua relação pragmática com Rússia e China, e a defesa de uma política externa autônoma vêm provocando desconforto em Washington.
O Itamaraty não condenou a Rússia de forma contundente na guerra da Ucrânia, o que incomodou a Casa Branca.
Em paralelo, o Brasil tem discutido acordos bilaterais de comércio em moedas locais, e demonstrado interesse em ativos estratégicos fora da órbita ocidental — incluindo satélites, fertilizantes e infraestrutura energética.
Setores sob risco com o protecionismo americano
As tarifas ao aço e alumínio são apenas a ponta do iceberg. A depender da escalada das tensões, os riscos se ampliam para outros setores cruciais da economia brasileira:
- Commodities agrícolas: o Brasil é líder global em soja, milho, carne bovina e açúcar. Qualquer barreira tarifária ou sanitária dos EUA pode ser devastadora.
- Minério e metais estratégicos: com a transição energética global, o Brasil ganha importância por suas reservas de lítio, nióbio e cobre.
- Tecnologia e energia: os EUA têm olhado com cautela o avanço chinês no 5G no Brasil, além da possível cooperação em energia nuclear com a Rússia.
- Câmbio e sistema financeiro: qualquer tentativa brasileira de diversificar suas reservas e meios de pagamento (como o uso do yuan ou do real em transações internacionais) pode ser vista como subversiva ao sistema dólar.
- Política externa soberana: o simples ato de manter boas relações com países sancionados pelo Ocidente já é suficiente para atrair retaliações veladas ou explícitas.
O Brasil está sendo "lido" como um novo tipo de player
Não é apenas o aço ou o alumínio. O Brasil está sendo reclassificado — de fornecedor neutro para competidor estratégico.
Em um mundo cada vez mais multipolar, o simples fato de tentar jogar em mais de um tabuleiro já é motivo suficiente para entrar no radar das grandes potências.
A pergunta agora é: o Brasil vai reagir como reagiu no passado — com submissão — ou vai aprender com países como a Rússia, que transformaram pressão externa em catalisador de soberania econômica?
4. O Que o Brasil Pode Aprender com a Rússia
Se as sanções impostas à Rússia tinham como objetivo quebrar sua economia, o efeito foi praticamente o oposto.
Moscou mostrou ao mundo que é possível resistir a um cerco econômico ocidental com pragmatismo estratégico e redesenho geopolítico.
Para o Brasil, diante do risco iminente de tarifas norte-americanas, há lições claras a serem consideradas — e que já estão, em partes, sendo aplicadas silenciosamente.
Diversificar Parceiros: Uma Estratégia em Curso
A Rússia acelerou sua integração comercial com China, Índia e Turquia após o isolamento europeu. O Brasil já trilha um caminho similar.
Nos últimos anos, o comércio bilateral com a China não apenas cresceu, como se sofisticou — indo além de soja e minério, passando a incluir tecnologia, energia renovável e acordos logísticos estratégicos.
Além disso, Brasil e Emirados Árabes fecharam recentemente parcerias em investimentos e energia limpa.
Com a Índia, a cooperação agrícola e em inovação vem se intensificando — inclusive com reuniões regulares no âmbito dos BRICS+.
Essa ampliação de parceiros permite que o Brasil não dependa exclusivamente dos mercados tradicionais ocidentais, especialmente em um momento de crescente protecionismo.
Comércio em Moeda Local: Acordo com China é Sinal do Futuro
Uma das reações mais simbólicas da Rússia ao isolamento financeiro foi ampliar o uso do yuan e do rublo no comércio internacional.
O Brasil está atento. Em 2023, firmou um acordo com Pequim que permite transações diretas em yuan e real, sem necessidade de passar pelo dólar como moeda intermediária.
Essa movimentação, ainda embrionária, aponta para uma estratégia de médio prazo: reduzir a vulnerabilidade às oscilações do dólar e, principalmente, evitar que a moeda americana seja usada como ferramenta de coerção econômica.
Infraestrutura de Pagamentos Alternativos: Além do SWIFT
O sistema MIR russo, aliado ao CIPS (o sistema chinês de liquidação internacional), permitiu que a Rússia contornasse o bloqueio do SWIFT — considerado até então um "botão nuclear financeiro".
O Brasil ainda depende fortemente do sistema SWIFT para transações internacionais, mas já participa de discussões no âmbito dos BRICS para a criação de um sistema alternativo de pagamentos interbancários.
A meta: garantir transações soberanas, especialmente com países do Sul Global, fora da vigilância e interferência do sistema financeiro ocidental.
Reservas em Ouro e Redução da Dívida em Dólar
Outra lição importante da Rússia foi reforçar suas reservas internacionais com ativos reais — especialmente ouro.
Antes da guerra, Moscou já havia reduzido drasticamente sua exposição a títulos do Tesouro americano, apostando no metal precioso como proteção contra sanções.
O Brasil ainda mantém grande parte de suas reservas em dólares e títulos norte-americanos.
Mas há discussões dentro do Banco Central e da equipe econômica sobre a diversificação desses ativos, inclusive com maior alocação em ouro e moedas de parceiros comerciais estratégicos.
Além disso, reduzir a emissão de dívida externa em dólar e fortalecer o mercado de dívida soberana em real pode blindar o país contra ciclos de aperto monetário nos EUA, que afetam diretamente os juros e o câmbio brasileiros.
Soberania Energética e Alimentar: As Armas do Século XXI
A Rússia enfrentou as sanções com dois grandes escudos: energia e alimentos. O Brasil, potência agroalimentar e detentor de matriz energética majoritariamente renovável, tem uma base parecida para sustentar sua autonomia.
Investir em refino de combustíveis, ampliar fontes renováveis (como etanol, solar e eólica) e expandir a produção nacional de fertilizantes são estratégias que podem garantir ao Brasil uma posição menos vulnerável em tempos de instabilidade internacional.
No campo alimentar, o fortalecimento das cadeias produtivas internas e a redução da dependência de insumos importados são fundamentais.
A autossuficiência, neste século, voltou a ser um ativo de segurança nacional. O Brasil não precisa repetir o isolamento russo para aprender com ele.
A resposta de Moscou à guerra econômica ocidental mostrou que há vida — e crescimento — fora do eixo tradicional de Washington e Bruxelas.
Cabe ao Brasil aproveitar essa janela histórica para acelerar sua autonomia estratégica, antes que o cerco se feche por aqui também.
5. O Real Está no Alvo? O Efeito Cambial das Tarifas
A imposição de tarifas externas, como as que estão sendo cogitadas pelos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio brasileiros, carrega implicações profundas que vão muito além do setor diretamente afetado.
Uma dessas consequências, muitas vezes invisível à primeira vista, é o impacto no mercado cambial — e, por consequência, em toda a estrutura econômica do país.
Como tarifas externas afetam o câmbio e a economia interna
Quando um país como os EUA impõe tarifas pesadas sobre produtos brasileiros, o fluxo comercial tende a se retrair.
Com menos exportações, há menor entrada de dólares na economia brasileira, o que pressiona o real. A lógica é simples: menos oferta de dólares no mercado, maior é o seu valor frente à moeda local.
Esse movimento pode se traduzir em:
- Desvalorização do real, o que encarece importações e pode alimentar a inflação.
- Aumento na incerteza cambial, elevando o custo de hedge para empresas e investidores.
- Risco de fuga de capitais, especialmente se o Brasil não demonstrar estabilidade fiscal e monetária no curto e médio prazo.
Além disso, a deterioração da balança comercial pode afetar diretamente o nível de reservas internacionais, enfraquecendo a capacidade de defesa do país em um cenário de ataque especulativo contra sua moeda.
O dilema dos juros e a armadilha monetária
Com um real mais fraco e riscos inflacionários em alta, o Banco Central pode se ver pressionado a interromper o ciclo de cortes na taxa Selic — ou até mesmo voltar a subir os juros.
Isso, por sua vez, pode frear o consumo e os investimentos domésticos, criando um efeito dominó que vai do comércio exterior à economia real.
É nesse momento que o dilema se instala: reagir com austeridade pode proteger o câmbio, mas compromete o crescimento. Reagir com estímulo pode sustentar a atividade econômica, mas deteriora ainda mais a confiança no real.
O Brasil está preparado?
A resposta está no tripé: credibilidade fiscal, autonomia monetária e resiliência externa.
- Manter a âncora fiscal sólida — ainda que sob pressão política — é essencial para conter a percepção de risco e atrair capital produtivo.
- Blindar a política monetária contra interferências de curto prazo ajuda a preservar a credibilidade do Banco Central.
- Diversificar as reservas internacionais, fortalecendo a posição em ouro e outras moedas além do dólar, reduz a dependência e reforça a capacidade de resposta.
Reflexão: da ameaça à oportunidade estrutural
As tarifas norte-americanas, embora hostis, podem ser a fagulha necessária para o Brasil acelerar sua reestruturação econômica.
Como no caso da Rússia, momentos de pressão externa podem revelar vulnerabilidades e também oportunidades.
O real, sob ataque, pode forçar o país a repensar seu modelo de inserção global, suas cadeias de valor e a dependência de mercados tradicionais.
Se bem gerido, o estresse cambial atual pode se tornar o ponto de partida de uma virada estrutural — rumo a uma economia mais resiliente, menos vulnerável e mais estrategicamente posicionada no tabuleiro global.
6. O Papel dos BRICS e a Escolha Brasileira
Ao longo da última década, os BRICS deixaram de ser apenas um acrônimo elegante criado por economistas do Ocidente para descrever mercados emergentes promissores.
Em 2024, com a entrada formal de países como Arábia Saudita, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, o bloco passou a operar não só como um fórum de diálogo, mas como uma plataforma de ação geoeconômica coordenada, desafiando diretamente a hegemonia dos modelos ocidentais de governança global.
BRICS+: O Bloco com Energia, Moeda e Poder
Com os novos membros, os BRICS controlam:
- Mais de 40% da produção global de petróleo
- Cerca de 30% da população mundial
- Reservas cambiais superiores a US$ 5 trilhões
- Grandes volumes de comércio bilateral em moedas locais, como yuan, rublo, rupia, real e dirham.
A presença da Arábia Saudita e do Irã dá ao grupo poder de barganha no mercado energético, ao mesmo tempo em que desloca o eixo das decisões econômicas para o Sul Global.
E o protagonismo do Egito e da Etiópia no continente africano torna os BRICS um vetor de infraestrutura, crédito e diplomacia econômica.
A Nova Rota: De Fórum a Plataforma Estratégica
O BRICS passou a:
- Criar infraestrutura financeira alternativa ao SWIFT e ao FMI, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) com sede em Xangai.
- Investir em plataformas de pagamento multilateral para acelerar transações sem dólar.
- Discutir abertamente a criação de uma moeda digital multilateral, com suporte entre bancos centrais.
Essas ações não são apenas simbólicas. São estratégias para proteger os países do grupo contra sanções, guerras tarifárias e instabilidade cambial promovidas por decisões políticas externas — como as que Brasil e Rússia já enfrentaram ou estão começando a enfrentar.
A Escolha do Brasil: Coadjuvante ou Protagonista?
O Brasil, membro fundador dos BRICS, encontra-se em uma encruzilhada histórica.
Por um lado:
- Mantém parcerias estratégicas com EUA e UE;
- Tem sua economia ainda dolarizada em fluxos de capital e reservas internacionais;
- Depende do Ocidente para financiamento, tecnologia e mercados consumidores.
Por outro:
- Possui autonomia agrícola, energética e mineral;
- Tem laços profundos com China, Índia e Emirados Árabes;
- Está geograficamente distante de zonas de conflito e possui soft power crescente no Sul Global.
Essa posição coloca o Brasil como um potencial mediador entre polos geopolíticos, mas também exige clareza estratégica.
É hora de decidir se continuará atuando como fornecedor barato para grandes potências, ou se assumirá um papel mais ativo na construção de uma ordem internacional multipolar e descentralizada.
Multipolaridade ou Subordinação?
A lógica é simples:
Um Brasil que fortalece seus laços com os BRICS, investe em comércio em moeda local, participa das decisões estratégicas do bloco e diversifica seus mercados pode conquistar autonomia verdadeira.
Um Brasil que aceita passivamente a lógica das tarifas, pressões cambiais e sanções indiretas, permanece como satélite econômico — mesmo que disfarçado de parceiro.
"E se o real já estiver no radar dessas disputas silenciosas? O próximo campo de batalha pode ser o câmbio brasileiro."
7. Para fixar na mente como Osmose: A Guerra Econômica Está na Sua Carteira
As sanções ocidentais impostas à Rússia não apenas fracassaram em colapsar sua economia — como provocaram um efeito contrário.
Elas funcionaram como um catalisador histórico para a reorganização do sistema internacional.
A Rússia reagiu com pragmatismo: diversificou mercados, reforçou a soberania econômica e, mais importante, lançou um alerta global.
O jogo mudou — e o dólar, por décadas incontestável, já não é mais o único eixo de estabilidade e confiança.
Agora, quem está diante do espelho geopolítico é o Brasil.
As tarifas que os EUA sinalizam contra o aço e alumínio brasileiros não são apenas medidas comerciais — são avisos.
Representam um teste de lealdade e uma tentativa de contenção industrial. A pergunta que emerge é simples e brutal: o Brasil vai se curvar como colônia exportadora, ou vai se posicionar como potência autônoma em uma nova ordem mundial?
A guerra não é feita com tanques — ela é travada em portos, terminais de pagamento, reservas cambiais e acordos comerciais.
E, sobretudo, ela acontece silenciosamente dentro da sua carteira: no valor do real, no preço da gasolina, nos juros do cartão, na confiança do investidor e na estabilidade do emprego.
O Brasil tem ativos valiosos: energia limpa, produção de alimentos, minérios estratégicos, biodiversidade, população jovem, moeda relativamente estável e uma posição diplomática privilegiada. Mas o tempo da neutralidade passiva acabou.
A escolha está lançada: ou o país se torna protagonista de um novo sistema financeiro mais multipolar e equilibrado — ou continuará vulnerável às chantagens tarifárias, cambiais e políticas de um sistema que já não representa seus interesses.
A decisão não é apenas do Itamaraty ou do Ministério da Fazenda. Ela começa no seu consumo, nas suas reservas, no seu investimento. Porque, em tempos de guerra econômica, cada real conta.
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