Pix sob Investigação? Como o Sistema de Pagamentos Brasileiro Desafia o Dólar e o Poder Financeiro dos EUA
O Pix e a Guerra Silenciosa pelo Controle Financeiro Global
Como o sistema de pagamentos brasileiro se tornou alvo dos EUA em uma disputa geopolítica que vai muito além do comércio

1 PIX: O que está acontecendo?
No início de julho de 2025, um anúncio inesperado sacudiu o mercado internacional: os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, em uma retaliação econômica que pegou muitos de surpresa.
Mas o que realmente causou espanto foi um dos argumentos apresentados na carta oficial enviada pelo governo norte-americano ao Brasil — assinada pelo presidente Donald Trump e referendada pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR): o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central do Brasil, foi citado como um exemplo de concorrência desleal às empresas americanas de pagamento.
A alegação oficial? Que o governo brasileiro estaria promovendo, de forma "desbalanceada", um sistema estatal gratuito que prejudicaria o desempenho de grandes corporações americanas como Visa, Mastercard e PayPal — todas tradicionais líderes do setor de pagamentos digitais.
Mas será mesmo que se trata apenas de uma disputa comercial?
Nos bastidores, muitos analistas enxergam algo muito maior em jogo. O Pix, com sua eficiência e ampla adoção pela população brasileira, tornou-se mais do que uma ferramenta de inclusão financeira.
Ele virou um símbolo de soberania digital e um modelo exportável para países que desejam romper a dependência de infraestruturas financeiras controladas pelos EUA.
Em um mundo cada vez mais digital, quem controla os sistemas de pagamento controla o fluxo do dinheiro — e, portanto, o poder econômico.
O que antes era apenas um sistema para transferências bancárias rápidas no Brasil agora entrou no centro do tabuleiro geopolítico.
E o ataque direto ao Pix levanta uma questão incômoda: será que os EUA estão tentando conter o avanço de sistemas soberanos de pagamento que ameaçam sua influência global?
Essa é a história que precisamos entender — e é exatamente isso que você vai acompanhar neste artigo.
2. Pix: O que é e por que revolucionou o Brasil
Lançado oficialmente em novembro de 2020, o Pix surgiu como uma resposta inovadora do Banco Central do Brasil à necessidade de modernização do sistema de pagamentos nacional.
Em um país com alta bancarização digital, mas ainda com dificuldades de acesso a serviços financeiros rápidos e baratos, o Pix rapidamente quebrou paradigmas — e o fez com uma eficiência raramente vista em políticas públicas no setor financeiro.
📌 Mas o que é o Pix, exatamente?
É um sistema de pagamentos instantâneo, gratuito, digital e estatal que permite a transferência de valores entre pessoas, empresas e governos em até 10 segundos, operando 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo feriados, sem depender de intermediários como maquininhas, boletos, ou bandeiras de cartões.
🚀 O crescimento meteórico do Pix
Desde seu lançamento, o Pix protagonizou uma verdadeira revolução financeira no Brasil. Em menos de 5 anos, o sistema atingiu marcos impressionantes:
Usuários cadastrados
Dados de junho de 2025
Transações mensais
Movimentando R$ 2,5 trilhões/mês
Meios de pagamento
Superou todos os outros combinados
Essa velocidade de adoção é comparável — e até superior — à de grandes inovações digitais como o WhatsApp, o Uber ou mesmo o cartão de crédito.
E tudo isso sem cobrar um centavo dos usuários pessoa física, o que impulsionou ainda mais sua penetração em todas as camadas sociais e regiões do país.
🧨 O poder da desintermediação
Um dos fatores que mais explica o sucesso do Pix é a eliminação de intermediários financeiros tradicionais. Com ele, o usuário não precisa mais:
- Pagar tarifas de transferência (como no TED ou DOC);
- Utilizar maquininhas que cobram taxas para comerciantes;
- Depender de bancos e operadoras para transações simples.
Isso gerou uma pressão inédita sobre o setor bancário e de adquirência. Grandes bancos precisaram rever suas estratégias de receitas, fintechs adaptaram seus modelos, e empresas de maquininhas viram sua relevância reduzir drasticamente.
Para os pequenos empreendedores e autônomos, o Pix foi uma revolução. Um vendedor de bolo caseiro ou um motorista de aplicativo, por exemplo, passou a receber pagamentos instantâneos, direto na conta, sem taxas e sem precisar de máquinas de cartão — uma verdadeira democratização dos meios de pagamento.
🌍 O Pix como referência internacional
A eficiência do Pix chamou a atenção do mundo.
Diversos países — inclusive desenvolvidos — começaram a estudar o modelo brasileiro como referência de infraestrutura pública e digital de pagamentos.
A Índia, por exemplo, que já tinha o UPI (Unified Payments Interface), estabeleceu cooperação com o Brasil para comparar e integrar tecnologias.
Países da África, América Latina e até a União Europeia discutem a adoção de modelos inspirados no Pix.
Mais do que um produto brasileiro, o Pix se tornou um case internacional de inovação financeira estatal — o que, inevitavelmente, atraiu os olhos de potências que controlam há décadas o sistema global de pagamentos.
💡 Um sistema gratuito, eficiente e soberano
O que torna o Pix ainda mais estratégico é o fato de ele ser público, gratuito e operado diretamente pelo Banco Central. Ou seja:
- Não pertence a nenhuma empresa privada;
- Não cobra tarifas de operação para pessoas físicas;
- É transparente, confiável e regulado pelo Estado brasileiro;
- Pode evoluir para integração com moedas digitais (CBDCs) ou sistemas internacionais alternativos ao SWIFT.
Esse modelo contrasta frontalmente com os sistemas tradicionais dominados por empresas privadas americanas — como Visa, Mastercard e PayPal — que baseiam seus lucros em intermediação e cobrança de tarifas.
Resumo desse impacto? O Pix empoderou o cidadão, reduziu a dependência de instituições financeiras tradicionais, e mostrou ao mundo que é possível construir uma infraestrutura digital eficiente, segura e soberana.
E é justamente por isso que ele está agora no centro de uma disputa que vai muito além das finanças: uma disputa sobre quem controla os meios de pagamento do futuro.
3. Por que o Pix incomoda os EUA?
Para entender por que o Pix entrou na mira dos Estados Unidos, é preciso compreender quem tradicionalmente domina os bastidores do sistema de pagamentos global: um punhado de grandes corporações, majoritariamente americanas, que por décadas lucraram bilhões por meio da intermediação financeira — e que agora veem seu modelo ameaçado.
Estamos falando de gigantes como Visa, Mastercard, PayPal e Stripe. Essas empresas não são apenas marcas conhecidas: elas compõem a infraestrutura invisível do capitalismo digital, controlando desde transações online até terminais de pagamento físicos em todo o mundo.
Em muitos países, inclusive no Brasil até poucos anos atrás, era quase impossível fazer uma compra, uma transferência ou um pagamento sem passar por alguma dessas redes — sempre pagando tarifas, é claro.
💸 O Brasil como mercado lucrativo
O Brasil sempre foi um mercado extremamente atraente para essas empresas:
- Uma população numerosa e bancarizada,
- Alta penetração de smartphones,
- Crescente digitalização de serviços financeiros.
Antes do Pix, as tarifas cobradas por transferências (TED/DOC), boletos, maquininhas e compras com cartões geravam lucros expressivos para empresas como Visa, Mastercard, adquirentes como Cielo e Rede, além de bancos tradicionais e intermediários financeiros. O sistema era fechado, lento, tarifado e altamente lucrativo.
⚡ A chegada do Pix e a quebra do ciclo
Com o lançamento do Pix, esse jogo virou.
Em poucos meses, o novo sistema passou a concentrar a maior parte das transações do país, reduzindo drasticamente a participação de serviços privados internacionais.
E o mais "perigoso" (na visão das corporações estrangeiras): o Pix é público, gratuito e eficiente.
Essa combinação fez com que:
- Os brasileiros deixassem de pagar tarifas para transferências e pagamentos simples;
- Pequenos e médios negócios abandonassem as maquininhas com taxas abusivas;
- O volume de transações via cartão caísse significativamente;
- E o modelo tradicional de lucros por intermediação financeira fosse diretamente ameaçado.
Estudos recentes estimam que as empresas de pagamento estrangeiras perderam até 40% do volume de receitas operacionais no Brasil desde a implementação do Pix — isso sem considerar a tendência de aceleração com novas funcionalidades como o Pix Garantido, Pix Automático e pagamentos internacionais em fase piloto.
🌍 O medo do "efeito dominó" global
Mas o maior incômodo para os EUA não está apenas no Brasil. O que realmente preocupa é o potencial do Pix de virar um modelo global exportável.
Se o Pix — um sistema público, eficiente e estatal — der certo em larga escala e for adotado por outros países em desenvolvimento, o que acontece?
Exatamente: os EUA perdem poder econômico e controle estratégico sobre o fluxo global de pagamentos.
Imagine isso:
- Países da América Latina, África e Ásia implementando seus próprios "Pix";
- Conexões diretas entre esses sistemas usando moedas locais ou digitais, sem passar por bancos americanos nem pelo dólar;
- Comércios e populações inteiras livres das taxas de empresas estrangeiras;
- E os BRICS articulando uma rede multilateral de pagamentos fora da influência do SWIFT e do Tesouro dos EUA.
Esse cenário é totalmente viável — e já está em discussão. O Pix é, nesse contexto, o primeiro tijolo em um novo edifício financeiro global descentralizado, e isso assusta Washington mais do que qualquer discurso oficial sobre "concorrência desleal".
🧠 Uma ameaça à hegemonia digital americana
Não se trata apenas de dinheiro.
O que está em risco é o poder dos Estados Unidos de ditar as regras do jogo digital global. Com empresas como PayPal, Visa e Mastercard perdendo espaço, os EUA também perdem:
- Capacidade de rastrear fluxos financeiros;
- Potencial de aplicar sanções econômicas com precisão;
- E o monopólio das "redes de confiança" digitais que movimentam o comércio mundial.
O Pix, mesmo sendo apenas uma peça, rompe com a lógica centralizada do sistema atual.
É como se o Brasil dissesse ao mundo: "Não precisamos mais de vocês para movimentar nosso dinheiro."
E quando um país do tamanho e importância estratégica do Brasil faz isso, outros seguem o exemplo — e é aí que o jogo muda.
📌 Resumo do incômodo
Fator | Por que incomoda os EUA? |
---|---|
Gratuidade | Elimina receitas de empresas que lucram com tarifas |
Controle estatal | Retira o poder das big techs financeiras americanas |
Adoção massiva | Reduz participação de Visa, Mastercard, PayPal no mercado |
Potencial exportável | Pode ser replicado por países em desenvolvimento |
Desintermediação | Rompe com o modelo tradicional baseado em intermediação privada |
Risco geopolítico | Enfraquece o dólar e a influência do sistema financeiro americano |
A conclusão é clara: o Pix incomoda os EUA porque mostra que é possível construir uma alternativa eficiente e soberana à infraestrutura financeira global dominada por eles. E isso muda tudo.
4. Pix e a Soberania Financeira dos BRICS
A ascensão do Pix no Brasil não ocorre isoladamente. Vários países que compõem o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vêm implementando suas próprias infraestruturas nacionais de pagamento digital — e isso está começando a preocupar potências tradicionais que sempre dominaram o sistema financeiro global.
Sistemas similares em outros BRICS
Cada país dos BRICS, à sua maneira, desenvolveu soluções locais para digitalizar e baratear os meios de pagamento:
- China: Lançou o e-CNY, o yuan digital, emitido diretamente pelo Banco Central chinês, com potencial para uso doméstico e internacional, desafiando diretamente o dólar como meio de pagamento.
- Índia: Criou o UPI (Unified Payments Interface), um sistema de pagamentos instantâneos que já realiza mais de 10 bilhões de transações mensais, com forte integração entre bancos e apps.
- Rússia: Ampliou o uso do sistema SPFS (Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras), uma alternativa ao SWIFT, e está desenvolvendo sua moeda digital (ruble digital).
- África do Sul: Está testando o SARB Instant Payments, projeto do Banco Central local que visa criar um sistema nacional de pagamentos instantâneos, inspirado em modelos como o Pix e o UPI.
O Brasil, com o Pix, figura nesse movimento como uma referência de sucesso. Sua alta adesão popular, a facilidade de uso e o custo praticamente nulo colocaram o país na vanguarda da transformação financeira digital pública.
Integração multilateral: o sonho de um sistema próprio dos BRICS
A partir do momento em que cada país tem sua própria solução local de pagamentos digitais, uma pergunta natural surge: e se essas soluções se conectassem entre si? Ou seja, um Pix dos BRICS, que permitiria transações diretas entre cidadãos, empresas e governos dos países do bloco, sem passar pelo dólar, sem depender do SWIFT e fora do alcance de sanções unilaterais.
O movimento de cooperação entre essas infraestruturas já começou nos bastidores. Em 2023, os BRICS discutiram oficialmente a criação de um sistema de pagamentos unificado como parte das estratégias de desdolarização.
O Pix, pelo seu caráter estatal, transparente e funcional, é constantemente citado como uma base técnica viável para essa integração.
Redução do uso do dólar: um novo paradigma?
A integração de sistemas como o Pix, UPI, e-CNY e outros criaria um ecossistema financeiro multilateral onde o uso do dólar não seria mais necessário para liquidações internacionais.
Isso abalaria profundamente a atual hegemonia financeira dos EUA, construída sobre a premissa de que o dólar é indispensável ao comércio global.
Essa mudança de paradigma também representa soberania: países do Sul Global deixariam de depender de redes bancárias internacionais sujeitas a sanções, taxas elevadas e vigilância.
Com uma rede BRICS de pagamentos digitais públicos, o comércio entre os países do bloco ganharia fluidez, segurança e independência.
5. A Guerra Invisível: Dólar, SWIFT e o Controle do Sistema Financeiro
A maior guerra do século XXI talvez não seja travada com armas, mas com códigos, algoritmos e sistemas bancários. E o campo de batalha tem um nome: sistema financeiro global.
O Dólar: Muito Além de Uma Moeda
Desde os Acordos de Bretton Woods, em 1944, o dólar se tornou a moeda central das transações internacionais, dos contratos de petróleo aos acordos entre países.
Mesmo após o fim do lastro em ouro em 1971, os EUA mantiveram sua supremacia graças ao poder político, militar e à confiança institucional que conseguiram impor ao mundo.
Hoje, mais de 88% de todas as transações de câmbio no mundo envolvem o dólar. Isso significa que, direta ou indiretamente, quase todo o comércio internacional passa por bancos e sistemas supervisionados — ou influenciados — por Washington.
SWIFT: O Sistema Nervoso do Dinheiro Global
Pouca gente conhece o SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), mas ele é tão importante quanto o próprio dólar.
Trata-se de um sistema de mensagens financeiras usado por mais de 11 mil instituições em mais de 200 países, que interliga bancos para transações transfronteiriças.
Embora o SWIFT seja tecnicamente uma cooperativa internacional com sede na Bélgica, sua infraestrutura crítica depende fortemente de instituições financeiras ocidentais, o que dá aos EUA um poder descomunal: o de banir países do sistema, paralisando suas economias.
Sanções: O Dólar Como Arma Econômica
Esse poder se manifestou com força em episódios recentes:
- Rússia: após a invasão da Ucrânia, foi parcialmente excluída do SWIFT e teve centenas de bilhões em reservas congeladas.
- Irã: expulso do sistema, viu suas exportações de petróleo colapsarem por anos.
- Venezuela e Coreia do Norte também sofreram bloqueios, muitas vezes com efeitos devastadores sobre suas populações.
Essas ações revelam um fato incômodo: o sistema financeiro atual é altamente centralizado e politizado. E cada vez mais países buscam alternativas.
A Contraofensiva: Pix, Blockchain e os BRICS
A ascensão de soluções descentralizadas, como o blockchain, e sistemas estatais como o Pix no Brasil ou o e-CNY da China, representa uma ameaça real à hegemonia do dólar e ao monopólio do SWIFT.
Essas soluções permitem:
- Transações rápidas, baratas e fora da jurisdição americana;
- Redução da dependência de moedas estrangeiras, com liquidação direta entre pares (ex: yuan e rublo, real e rupia);
- Criação de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) com funcionalidades similares ao Pix, porém com escopo internacional.
Em 2023, os BRICS deram um passo ousado: iniciaram discussões técnicas para um sistema de pagamentos próprio, capaz de integrar Pix, UPI (Índia), SPFS (Rússia) e outras soluções locais.
Esse sistema visaria não só facilitar o comércio entre os membros, mas evitar o risco de sanções unilaterais impostas pelo Ocidente.
6. O Ataque dos EUA: Comercial ou Geopolítico?
Nos últimos meses, uma tensão crescente tomou forma entre o Brasil e os Estados Unidos, com o governo norte-americano impondo uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, supostamente em resposta a práticas comerciais desleais.
Uma das peças-chave dessa ofensiva foi a carta enviada pelo ex-presidente Donald Trump ao governo brasileiro, mencionando diretamente o Pix como um exemplo de concorrência que "fere os princípios de mercado" ao oferecer um serviço gratuito e gerido por uma instituição estatal.
Em paralelo, o Relatório do USTR (United States Trade Representative) — espécie de "Itamaraty comercial" dos EUA — reforça que o Brasil estaria criando "barreiras sistêmicas ao livre mercado", citando, além do Pix, questões como o subsídio ao etanol, problemas de propriedade intelectual (pirataria), moderação de redes sociais e exigências regulatórias consideradas hostis a empresas americanas.
Mas por que tamanha preocupação com um sistema de pagamento gratuito?
Mais que comércio: controle geopolítico
Embora a tarifa seja justificada sob o argumento do "comércio justo", o que está em jogo vai muito além de desequilíbrios comerciais. A questão central é o controle dos fluxos financeiros digitais globais.
O Pix, por sua natureza pública e gratuita, representa uma ameaça direta à hegemonia de empresas como Visa, Mastercard, PayPal e Stripe, todas baseadas nos EUA e com lucros bilionários provenientes das taxas cobradas sobre transações em países emergentes.
Mais que isso: o Pix virou referência internacional como modelo de infraestrutura financeira estatal. Outros países, inclusive membros dos BRICS, têm estudado o sistema para aplicação local, o que abre caminho para uma rede alternativa de pagamentos globais, independente do dólar e do sistema tradicional controlado pelos EUA.
Pressão para manter a hegemonia financeira
O que se desenha, portanto, não é apenas um embate sobre produtos agrícolas ou plataformas de rede social, mas um movimento coordenado para sufocar a expansão de modelos financeiros que escapam do radar norte-americano.
Ao mirar o Pix, os EUA sinalizam que não aceitarão passivamente a perda de protagonismo num setor estratégico como o das fintechs e da infraestrutura de pagamentos.
A crítica velada à atuação estatal do Banco Central do Brasil mostra que, para Washington, qualquer sistema que opere fora do livre mercado — e principalmente fora do alcance do dólar e do SWIFT — será tratado como ameaça geopolítica.
Um ataque velado ao avanço tecnológico soberano
Por trás do discurso de defesa das empresas americanas, o que se observa é uma tentativa de recentralizar o poder financeiro digital nas mãos de corporações e governos aliados, enquanto se freia o avanço de soluções públicas e interoperáveis, como o Pix, especialmente se esses sistemas começam a dialogar entre si em grupos como os BRICS.
Neste contexto, a ofensiva dos EUA deixa claro: a guerra pelo controle do dinheiro digital já começou. E o Brasil, com o Pix, está no centro dessa disputa global.
7. O Futuro do Pix e o Papel do Brasil
Desde sua criação, o Pix não apenas transformou o cotidiano dos brasileiros, mas agora desponta como uma plataforma de poder geoeconômico e diplomático.
Em um cenário de disputas globais por influência sobre os meios de pagamento, o Brasil se vê na rara posição de protagonista — algo incomum para países do Sul Global.
O Brasil como protagonista de um novo modelo
Diferente de soluções privadas como PayPal ou Stripe, o Pix é uma infraestrutura pública, operada pelo Banco Central, gratuita para pessoas físicas e aberta 24 horas por dia.
Essa combinação de gratuidade, eficiência e segurança criou um modelo que chamou atenção internacional.
Países de todos os continentes têm demonstrado interesse: de Colômbia e Uruguai a Gana e Índia, diversos governos buscam entender como replicar a iniciativa brasileira.
O Banco Central do Brasil já firmou memorandos de entendimento com países latino-americanos e africanos para estudos e futuras parcerias, inclusive discutindo o uso do sistema Pix Internacional, com interoperabilidade para remessas e pagamentos entre nações.
Essa capacidade de exportar tecnologia pública de pagamentos é um ativo inédito para o Brasil, que por décadas foi importador de soluções bancárias privadas vindas de fora.
Exportação do Pix: um soft power brasileiro
Se o dólar foi, durante décadas, a moeda que alavancou a influência americana, o Pix pode se tornar um instrumento de soft power brasileiro.
Ao compartilhar know-how, estrutura regulatória e expertise técnica com países em desenvolvimento, o Brasil assume um papel de liderança com benefícios bilaterais:
- Financeirização inclusiva de milhões de pessoas sem acesso a serviços bancários.
- Barateamento de remessas internacionais e integração comercial.
- Redução da dependência de empresas estrangeiras em soluções digitais financeiras.
A meta, segundo o Banco Central, é que até 2025 o Pix esteja em plena evolução para se tornar uma plataforma de infraestrutura global, baseada em padrões abertos e interoperáveis — algo já discutido no G20 e em fóruns internacionais de pagamentos digitais.
Manter o Pix como bem público é estratégico
Com a escalada de interesses internacionais sobre a tecnologia, o Brasil precisa garantir que a governança do Pix permaneça pública e nacional.
Qualquer tentativa de privatização ou concessão da infraestrutura a corporações transnacionais colocaria em risco sua neutralidade e seu papel de indutor do desenvolvimento financeiro nacional.
Atualmente, o Pix está em processo de evolução com o Drex (Real Digital) e com funcionalidades como o Pix Automático e o Pix por Aproximação, que devem ampliar ainda mais sua penetração, inclusive no comércio físico e no e-commerce.
A combinação dessas inovações projeta o Brasil como laboratório real de soluções digitais estatais, algo que atrai tanto aliados quanto rivais.
Pix como ativo geopolítico dos BRICS
Dentro dos BRICS, o Brasil pode propor a criação de uma rede de pagamentos instantâneos interligada entre os sistemas nacionais de cada país: Pix (Brasil), UPI (Índia), e-CNY (China), SPFS (Rússia) e os sistemas emergentes da África do Sul.
Isso permitiria não apenas a redução do uso do dólar nas transações comerciais entre os países do bloco, como também a independência em relação ao sistema SWIFT — o mesmo usado para impor sanções geopolíticas.
Em resumo, o Brasil tem diante de si uma oportunidade histórica: usar o Pix como um instrumento de soberania, inclusão, influência internacional e liderança digital no Sul Global.
Perder isso, por pressão externa ou por decisões internas equivocadas, seria desperdiçar um dos maiores trunfos estratégicos da nossa era.
8. Para fixar como Osmose – O Pix é muito mais que um sistema de pagamento
À primeira vista, o Pix pode parecer apenas uma solução conveniente para o cotidiano — uma forma moderna de transferir dinheiro entre pessoas e empresas.
Mas como exploramos ao longo deste artigo, o sistema brasileiro se tornou muito mais do que isso.
Ele representa uma ruptura com o status quo financeiro global e desafia diretamente os alicerces que sustentam a hegemonia econômica de grandes potências.
Ao permitir transferências instantâneas, gratuitas e desintermediadas 24 horas por dia, o Pix se firmou como símbolo de inovação estatal bem-sucedida em um campo dominado por grandes corporações internacionais.
Ao fazer isso, o Brasil demonstrou que é possível desenvolver uma infraestrutura pública de pagamentos eficiente, segura e inclusiva — algo que muitos países considerados "mais desenvolvidos" ainda não conseguiram realizar.
Neste novo cenário, o Pix passa a ser visto não apenas como uma solução doméstica, mas como um modelo replicável em outros países, especialmente no Sul Global.
Sua eficiência, transparência e baixo custo despertam interesse crescente em nações que também desejam escapar da dependência de sistemas financeiros controlados por empresas estrangeiras ou governos hegemônicos.
E aqui está o ponto crucial: o que está em jogo não é apenas o dinheiro, mas sim o controle da infraestrutura do dinheiro.
A quem pertence o sistema pelo qual os pagamentos circulam? Quem lucra com cada transação? Quem tem o poder de interromper ou manipular esse fluxo em momentos de crise, conflito ou sanções?
Nesse contexto, o Pix representa uma resposta ousada — e perigosa, para quem detém o controle atual.
Ele desafia o modelo baseado em tarifas, monopólios e vigilância extraterritorial. Abre espaço para que o Brasil — e potencialmente outros países — retomem a soberania sobre seus fluxos financeiros e construam redes alternativas de cooperação, integração e independência.
A guerra por trás do Pix não é apenas tecnológica, tampouco econômica: é uma batalha silenciosa pela autonomia no século XXI. E o Brasil, talvez sem saber, assumiu a linha de frente.
Quer saber mais?
Para entender o impacto geopolítico dessa mudança nos fluxos financeiros globais, explore nossa análise sobre o cenário econômico internacional.
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