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O Banco dos BRICS: A Alternativa de US$ 50 Bilhões ao FMI e Banco Mundial que Está Mudando as Regras do Jogo

O desafio do Banco dos BRICS à hegemonia do FMI e Banco Mundial | Osmose Financeira
Imagem por IA mostrando a sede do Banco dos BRICS o NDB
Como o NDB dos BRICS se tornou a maior alternativa de financiamento internacional desde Bretton Woods

1. Introdução — O monopólio que está sendo desafiado

Desde 1944, quando a Conferência de Bretton Woods definiu as bases do sistema financeiro internacional do pós-guerra, duas instituições se tornaram pilares do desenvolvimento econômico global: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Criadas oficialmente no ano seguinte, essas entidades nasceram com a missão declarada de promover estabilidade monetária, reconstrução econômica e financiamento para países em desenvolvimento.

No papel, a proposta parecia um pacto de cooperação global. Na prática, consolidou-se um sistema profundamente assimétrico, no qual o poder de decisão sempre esteve concentrado nas mãos das economias ocidentais, especialmente os Estados Unidos.

No FMI, por exemplo, o peso dos votos é proporcional ao tamanho da economia, o que garante aos EUA e a alguns aliados europeus não apenas maior influência, mas também poder de veto sobre decisões estratégicas.

O Banco Mundial segue lógica parecida: o presidente da instituição é, por tradição, sempre indicado pelo governo americano, enquanto o FMI é comandado por um europeu — um arranjo informal que simboliza a divisão de poder no eixo Atlântico.

Conferência de Bretton Woods em 1944
Conferência de Bretton Woods em 1944, que estabeleceu o FMI e o Banco Mundial

Essa arquitetura garantiu por quase oito décadas que o modelo econômico defendido pelo Ocidente fosse exportado — e, muitas vezes, imposto — ao restante do planeta.

Empréstimos condicionados a reformas estruturais, privatizações, cortes de gastos sociais e abertura comercial tornaram-se marca registrada desses organismos.

O discurso era o de "estabilidade" e "modernização", mas, para muitos países, as condicionalidades significaram recessão, desemprego e perda de autonomia sobre suas próprias políticas econômicas.

E, por décadas, parecia não haver alternativa real. Se um país precisava de recursos para enfrentar uma crise cambial, financiar infraestrutura ou equilibrar as contas externas, a porta de entrada era quase sempre a mesma: o FMI ou o Banco Mundial — e, com ela, o pacote de regras definido em Washington.

Dados que impressionam

Desde sua criação, o FMI já emprestou mais de US$ 1 trilhão a países em desenvolvimento, quase sempre com condicionalidades que alteraram profundamente suas políticas econômicas internas.

Mas o cenário começou a mudar. Nas últimas duas décadas, o eixo da nova ordem global vem se deslocando gradualmente: o crescimento acelerado da China, a consolidação da Índia como potência emergente, a força de recursos naturais da Rússia, a influência regional do Brasil e o peso estratégico da África do Sul formaram um bloco capaz de questionar a ordem estabelecida.

E é nesse contexto que surge a pergunta:

E se eu te dissesse que existe uma instituição financeira internacional que já movimenta mais de US$ 50 bilhões, opera sem poder de veto, financia projetos em moedas locais e não impõe condicionalidades políticas?

O nome dela é New Development Bank — mais conhecido como Banco dos BRICS — e sua ascensão representa o desafio mais concreto à hegemonia financeira ocidental desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

2. O nascimento do NDB — O Banco dos BRICS

O New Development Bank (NDB), popularmente conhecido como Banco dos BRICS, nasceu oficialmente em julho de 2015, fruto de um movimento que vinha sendo articulado há anos pelos líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O marco de fundação foi a 6ª Cúpula dos BRICS, realizada em Fortaleza, no Ceará, onde os cinco países assinaram o acordo constitutivo da nova instituição.

Cúpula dos BRICS em Fortaleza, 2014
Cúpula dos BRICS em Fortaleza (2014), onde foi assinado o acordo de criação do NDB

A ideia central era ousada: criar um banco de desenvolvimento que operasse fora da órbita de influência do FMI e do Banco Mundial, voltado para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, especialmente nos países do chamado Sul Global — expressão que reúne nações em desenvolvimento da América Latina, África, Ásia e Oceania.

O NDB nasceu com um capital inicial autorizado de US$ 100 bilhões, sendo US$ 50 bilhões integralizados pelos países fundadores (cada um com US$ 10 bilhões) e o restante disponível para futuras expansões de capital.

Mas, mais do que o volume financeiro, o que realmente chamou atenção foi a arquitetura de governança:

  • Igualdade de votos entre os membros fundadores: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul têm cada um 20% de participação no capital e, consequentemente, o mesmo peso nas decisões.
  • Ausência de poder de veto: nenhuma nação, por mais poderosa economicamente que seja, pode bloquear sozinha uma decisão — um contraste radical com o FMI e o Banco Mundial, onde os EUA, sozinhos, têm poder de veto.
  • Sede no Sul Global: ao invés de Washington ou Nova York, a sede foi instalada em Xangai, na China, simbolizando a mudança do eixo de influência.

O propósito do banco foi definido de forma clara desde o início:

  • Financiar projetos com base em critérios técnicos, não políticos — sem exigir reformas estruturais, privatizações ou condicionalidades ideológicas.
  • Promover a soberania econômica dos países membros e parceiros, permitindo que definam suas próprias prioridades de desenvolvimento.
  • Fomentar a cooperação Sul-Sul como alternativa às redes de financiamento tradicionais dominadas pelo Ocidente.

Comparativo: NDB vs Banco Mundial/FMI

Critério NDB (BRICS) Banco Mundial/FMI
Governança Igualdade de votos entre fundadores Votos proporcionais ao capital (EUA com poder de veto)
Condicionalidades Baseadas em mérito técnico Reformas estruturais frequentemente exigidas
Moedas Financiamento em moedas locais Predomínio do dólar
Sede Xangai (China) Washington (EUA)

Logo nos primeiros anos, o NDB começou a operar com uma abordagem inédita para bancos multilaterais: oferecer empréstimos em moedas locais — como reais, rúpias e yuans —, reduzindo o risco cambial que historicamente prejudica países emergentes.

Essa estratégia não só protege as economias locais de choques no câmbio, como também abre espaço para a desdolarização gradual do comércio e financiamento internacional.

A criação do NDB não foi apenas uma decisão econômica, mas também um ato geopolítico calculado. Representou a afirmação de que o sistema financeiro global não precisa permanecer prisioneiro de um único modelo.

Pela primeira vez desde Bretton Woods, um grupo de países emergentes criou, do zero, uma instituição capaz de rivalizar com as estruturas estabelecidas por potências ocidentais — e com regras próprias.

3. O que torna o NDB diferente

O New Development Bank não é apenas mais uma instituição de crédito internacional; ele foi projetado desde o início para quebrar paradigmas do sistema financeiro global.

Seus pilares de funcionamento são, na prática, um contraponto direto ao modelo do FMI e do Banco Mundial, e é justamente aí que reside sua força transformadora.

1. Igualdade de votos — um país, um peso

No NDB, todos os países fundadores têm exatamente o mesmo peso nas decisões: 20% de participação e voto cada um.

Isso significa que o Brasil, com seu PIB de cerca de US$ 2 trilhões, tem o mesmo poder de decisão que a China, cuja economia é mais de oito vezes maior.

Essa paridade deliberada impede que um único país dite a agenda ou imponha suas prioridades aos demais.

É um contraste radical com o FMI, onde o poder de voto é proporcional à cota de capital, dando aos Estados Unidos sozinhos cerca de 16,5% dos votos e poder de veto sobre qualquer mudança de estatuto — algo que garante a perpetuação de interesses estratégicos norte-americanos.

2. Ausência de poder de veto — decisões coletivas

No NDB, nenhum país tem poder de veto. As decisões são tomadas por maioria qualificada, o que obriga à construção de consenso.

Isso evita que agendas políticas externas ou disputas geopolíticas bloqueiem projetos que beneficiam milhões de pessoas.

Enquanto no Banco Mundial e no FMI uma potência pode barrar empréstimos por razões políticas — como alinhamento ideológico ou sanções —, no NDB o critério é outro: o mérito técnico e o impacto positivo do projeto.

3. Financiamento em moedas locais — um golpe contra o risco cambial

Historicamente, países em desenvolvimento tomam empréstimos internacionais em dólares ou euros.

Isso cria uma vulnerabilidade perigosa: se a moeda local se desvaloriza, a dívida explode.

Foi assim que diversas economias latino-americanas e africanas entraram em colapso nas décadas de 1980 e 1990, presas à chamada "armadilha cambial".

O NDB adota um modelo inovador: financiar projetos na própria moeda do país — reais para o Brasil, rúpias para a Índia, yuans para a China, rublos para a Rússia e rands para a África do Sul.

Isso elimina a exposição ao câmbio e fortalece o mercado de capitais doméstico, já que as emissões de títulos para captação de recursos também podem ser feitas localmente.

Por que isso é revolucionário?

Em 2022, cerca de 70% dos empréstimos do Banco Mundial eram em dólares. No NDB, esse percentual vem caindo sistematicamente, com meta de chegar a 30% até 2026.

Mais do que um benefício financeiro, essa é uma estratégia geopolítica de desdolarização.

Ao reduzir a dependência do dólar, o NDB enfraquece um dos instrumentos mais poderosos de controle econômico global dos EUA: a capacidade de restringir liquidez ou aplicar sanções via sistema financeiro internacional.

4. Empréstimos sem condicionalidades políticas — soberania preservada

Talvez o ponto mais disruptivo seja o rompimento com a tradição das condicionalidades.

No FMI e no Banco Mundial, o acesso ao crédito costuma vir atrelado a reformas estruturais — privatizações, cortes de subsídios, abertura irrestrita ao capital estrangeiro — que, muitas vezes, atendem mais aos interesses de credores e investidores internacionais do que às necessidades da população local.

O NDB adota outro caminho: os projetos são avaliados puramente pelo seu mérito técnico, viabilidade econômica e impacto socioambiental.

Cabe ao país beneficiário definir suas prioridades — seja um sistema de transporte urbano, uma usina de energia renovável ou a expansão do saneamento básico.

Essa abordagem preserva a soberania nacional e reforça a ideia de que desenvolvimento não é um produto de receita única importada, mas um processo moldado pela realidade e pelas escolhas de cada nação.

Com essa combinação — igualdade, ausência de veto, financiamento em moedas locais e autonomia política — o NDB não apenas oferece crédito; ele oferece um modelo alternativo de governança financeira.

E é justamente por isso que, em menos de uma década, já atraiu novos membros e interesse de diversas economias emergentes que enxergam nele uma oportunidade de se libertar de um sistema que, por 80 anos, funcionou com regras escritas a partir de Washington.

4. Os resultados em números — O NDB como motor de infraestrutura no Sul Global

A força dos números

Até agora, o New Development Bank aprovou cerca de 122 projetos, com valor acumulado acima de US$ 40 bilhões — consolidando-se como uma das principais fontes de financiamento para infraestrutura entre os países em desenvolvimento.

Isso já o coloca como uma alternativa potente aos grandes bancos ocidentais, em especial em regiões historicamente desatendidas.

Projetos emblemáticos que fazem a diferença

  • Brasil (Pernambuco): Aprovado o projeto de expansão e eficiência de água e saneamento, com valor estimado em US$ 202 milhões, beneficiando milhões de pessoas.
  • Índia (Delhi–Ghaziabad–Meerut Regional Rapid Transit System): Um sistema de transporte metropolitano planejado com orçamento de US$ 500 milhões, representando avanço significativo na mobilidade urbana.
  • China (G3 Road-Rail Bridge, entre outros): Investimentos como o da ponte ferroviária rodoviária em Anhui (equivalente a RMB 2.190 milhões) mostram o foco em infraestrutura de transporte essencial.
  • África do Sul: Embora um exemplo específico como o do porto de Durban não tenha sido encontrado nas fontes, muitos projetos de infraestrutura portuária e logística estão em desenvolvimento no continente via NDB e refletem seu alcance estratégico.
Projetos financiados pelo NDB em diferentes países
Alguns dos projetos financiados pelo NDB em países membros | Fonte: Poder 360

Além disso, o banco tem se destacado por sua postura ágil. Em dezembro de 2024, por exemplo, foram aprovados quatro novos projetos com empréstimos totalizando cerca de US$ 776 milhões, incluindo um projeto de iluminação solar em Brasília e um parque solar de 300 MW em Andhra Pradesh (Índia).

Visão geral dos impactos

Impacto Descrição
Infraestrutura robusta Desde saneamento até transporte e energia — os investimentos estão moldando o futuro real do Sul Global.
Diversidade de setores Projetos cobrem áreas como saneamento, mobilidade urbana, energia renovável e conexão logística.
Eficiência e rapidez Aprovações expressivas, como as de dezembro de 2024, destacam a capacidade operacional do NDB.
Inclusão real Projetos no Brasil, Índia e China mostram que o banco atende às necessidades locais de forma estratégica e direta.

Esses números e projetos demonstram claramente que o NDB não é apenas uma ideia idealista: é uma instituição com rabo preso de realidade, que efetivamente entrega resultados.

Sua atuação abrange diversas fronteiras e setores, e está construindo o capital físico que serve como alicerce para o desenvolvimento sustentável e integrado do Sul Global.

5. A expansão acelerada — o NDB ganhando força como plataforma global do Sul

De 5 a 11 membros até 2025

Desde sua criação em 2015 por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o New Development Bank (NDB) multiplicou sua base de membros.

Em sua primeira fase de expansão, em 2021, foram integrados Bangladesh, Emirados Árabes Unidos e Uruguai, seguidos em 2023 pelo Egito, e em 2024 pela Argélia.

Em julho de 2025, o banco confirmou a entrada de Colômbia e Uzbequistão, totalizando assim 11 países membros.

Novos membros estratégicos: Colômbia e Uzbequistão

A Colômbia, que formalizou seu pedido de adesão e viu o ingresso finalmente aprovado em 2025, representa um ativo estratégico — atua como ponte entre América do Sul, Central e Caribe.

Já o Uzbequistão, maior economia da Ásia Central, amplia significativamente o alcance do NDB nessa região — mostrando que o banco está se tornando verdadeiramente intercontinental.

Expansão em números

Em apenas 10 anos, o NDB passou de 5 para 11 membros, com perspectiva de chegar a 15 até 2027, segundo analistas.

Outros países na fila: visões para o futuro

Embora não oficialmente confirmados, há constantes menções a outros países em negociação para ingressar no NDB.

Entre eles estão Arábia Saudita, Honduras, Zimbábue e Uruguai em diferentes fontes, o que mostra o interesse crescente em expandir o banco como uma plataforma ainda mais representativa do Sul Global.

O NDB como infraestrutura financeira do Sul Global

Essa trajetória reflete um claro esforço estratégico: construir uma plataforma financeira global, inclusiva e sulista, que fortalece a soberania e a cooperação entre países em desenvolvimento.

A entrada de membros tão diversos — da África à América Latina, à Ásia Central e ao Oriente Médio — aumenta a legitimidade política e geográfica do banco, além de expandir seu acesso e capacidade operacional em setores estratégicos como infraestrutura, energia, logística e digitalização.

A presidente Dilma Rousseff destacou esse caráter representativo e inclusivo da expansão como parte da missão central do banco: "fortalecer nossa representatividade dentro do Sul Global".

Resumo da Expansão

Etapa Novos membros Impacto
2021 Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Uruguai Início da expansão para fora dos BRICS
2023 Egito Abertura para o Norte da África
2024 Argélia Consolidação africana
2025 Colômbia, Uzbequistão Expansão estratégica na América Latina e Ásia Central

6. O papel estratégico de Dilma Rousseff

Dilma Rousseff não é apenas a primeira mulher e ex-chefe de Estado a presidir o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) — ela é uma peça-chave na própria gênese da instituição.

Sua ligação com o projeto remonta a 2011, quando, como presidente do Brasil, recebeu uma missão do FMI liderada pela Diretora-Geral Christine Lagarde solicitando uma contribuição brasileira de US$ 15 bilhões para reforçar o caixa do Fundo em meio à crise global.

Dilma Rousseff na sede do NDB em Xangai
Dilma Rousseff assumiu em Xangai a presidência do NDB em 2023 com um mandato ambicioso

Em vez de simplesmente enviar recursos para uma entidade dominada por países desenvolvidos, Dilma enxergou a oportunidade de criar uma alternativa.

Propôs aos demais líderes do BRICS a fundação de um banco próprio, voltado a financiar projetos estratégicos do Sul Global, livre das condicionalidades rígidas e, muitas vezes, sufocantes impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial.

A ideia amadureceu rapidamente e, em 2014, foi assinado o acordo de criação do NDB, com Dilma desempenhando papel de articuladora nos bastidores e de promotora nos palcos internacionais.

Anos depois, em 2023, já como presidente da instituição, ela assumiu um desafio nada trivial: o NDB enfrentava dificuldades de captação no mercado global devido a sanções indiretas e ao ambiente de incerteza geopolítica.

Em apenas 15 meses, Dilma conseguiu reverter esse quadro. Reconstruiu a confiança de investidores e países-membros, diversificou fontes de financiamento e recolocou o NDB na rota de crescimento.

Sua estratégia não se limita a estabilizar o presente: ela aposta em ampliar o uso de moedas locais nas operações, reduzir a dependência do dólar, financiar infraestrutura verde e digital e criar mecanismos internos de proteção contra pressões externas.

Conquistas sob a liderança de Dilma

  • Expansão para 11 países membros
  • Aumento de 40% na carteira de projetos
  • Primeiras emissões de títulos em moedas locais
  • Mandato estendido por unanimidade até 2030

O resultado dessa abordagem foi um raro consenso político no cenário internacional: todos os países-membros apoiaram a extensão de seu mandato até 2030.

Num mundo polarizado, esse apoio unânime é prova de que Dilma Rousseff se consolidou como liderança de confiança — capaz de unir o BRICS em torno de um projeto de longo prazo que busca mudar o equilíbrio financeiro global.

7. O plano para a próxima década

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) está desenhando uma rota ambiciosa para os próximos dez anos, alinhada com as necessidades estruturais dos países-membros e com as transformações globais em curso.

No centro dessa estratégia, dois eixos se destacam: infraestrutura verde e infraestrutura digital.

A aposta na infraestrutura verde vai muito além de financiar energia limpa.

O objetivo é fomentar projetos que ajudem os países do BRICS e seus parceiros a atingir metas de descarbonização, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e preparar as economias para um cenário de maior pressão climática.

Isso inclui investimentos em redes elétricas inteligentes, transporte público de baixa emissão, saneamento sustentável e gestão de recursos hídricos.

Já a infraestrutura digital mira o salto tecnológico que pode redefinir a competitividade das nações emergentes.

O NDB quer financiar desde redes 5G e cabos de fibra ótica até plataformas digitais para serviços públicos e sistemas de pagamento transfronteiriço.

A digitalização é vista como alavanca não apenas econômica, mas também social, ampliando inclusão e produtividade.

Projeto de infraestrutura verde financiado pelo NDB
Infraestrutura verde é um dos pilares do plano estratégico do NDB

Outro ponto central do plano é ampliar o financiamento em moedas locais, com a meta de atingir 30% do total até 2026.

Essa medida reduz a exposição cambial dos países e fortalece seus mercados financeiros internos, criando uma rede de proteção contra volatilidades externas e sanções econômicas.

Além de banco, o NDB quer se consolidar como hub de conhecimento e tecnologia para seus membros, reunindo estudos, dados e modelos de financiamento que sirvam como referência para políticas públicas e investimentos estratégicos.

A visão é clara: transformar a instituição em um vetor de integração financeira Sul-Sul, fortalecendo os fluxos de comércio, crédito e inovação entre economias emergentes.

Esse movimento, se bem-sucedido, pode alterar o mapa do poder econômico global — e é exatamente essa a ambição para a próxima década.

8. O terremoto geopolítico — O NDB desafiando o sistema de Bretton Woods

Desde 1944, o sistema financeiro global está ancorado nas instituições criadas na Conferência de Bretton Woods: o FMI e o Banco Mundial.

Essas entidades moldaram não só o fluxo de capital internacional, mas também as políticas econômicas de centenas de países — quase sempre sob a influência direta das potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos.

O New Development Bank (NDB) representa um verdadeiro terremoto geopolítico nesse arranjo centenário.

Ao oferecer uma alternativa real, operando sob princípios de soberania nacional, igualdade entre membros e ausência de condicionalidades políticas, o banco está minando a hegemonia histórica do Ocidente no sistema financeiro global.

Soberania e igualdade — uma nova narrativa para o desenvolvimento

Enquanto o FMI e o Banco Mundial impõem suas condições — muitas vezes exigindo austeridade fiscal, reformas estruturais e liberalização econômica.

O NDB reforça o direito dos países a decidirem seu próprio destino, sem intervenções externas que ataquem suas escolhas políticas e sociais.

Essa abordagem não é só ética, mas pragmática: respeitar a diversidade das realidades nacionais aumenta a eficácia dos projetos, gera mais engajamento local e reduz o risco de fracasso dos investimentos.

O NDB propõe um modelo de cooperação entre iguais, onde cada país tem voz e voto equilibrados, rompendo com décadas de dominação de países ricos e poderosos.

A redução da dependência do dólar — rumo a um mundo multipolar

Outro eixo crucial dessa revolução é a desdolarização. Ao financiar projetos diretamente em moedas locais — reais, rúpias, yuans, rublos, rands — o NDB reduz a exposição dos países ao risco cambial e diminui a influência do dólar como moeda de reserva global.

O poder do dólar em números

Segundo o FMI, em 2023 o dólar representava 58% das reservas internacionais globais, enquanto as moedas dos BRICS juntas não chegavam a 5%.

Isso não é apenas uma questão técnica, mas uma estratégia geopolítica de longo alcance. O domínio do dólar confere aos EUA ferramentas de pressão econômica e sanções que podem paralisar países inteiros.

O NDB, ao fortalecer mercados financeiros locais e promover o comércio e o financiamento fora do dólar, ajuda a construir um sistema multipolar, onde o poder econômico é mais distribuído e menos suscetível a choques unilaterais.

Implicações globais — um sistema financeiro mais plural e resiliente

O avanço do NDB sinaliza o início de uma nova era:

  • Um sistema global mais plural, onde as decisões financeiras são compartilhadas entre um número maior de países, com diferentes visões e prioridades.
  • Um espaço onde os países do Sul Global deixam de ser meros receptores de recursos sob rígidas condições e passam a ser protagonistas do seu desenvolvimento.
  • Um mecanismo para combater o uso político do sistema financeiro, como ocorre atualmente com sanções e restrições financeiras impostas unilateralmente.

A fundação do NDB, seu crescimento e a adesão acelerada de novos membros não são apenas eventos financeiros; são marcos de um rearranjo histórico no equilíbrio de poder global.

O que está em jogo não é só o futuro do desenvolvimento econômico, mas o formato do próprio sistema internacional — mais justo, diversificado e democrático.

9. Para fixar na mente como Osmose — Estamos diante do fim da hegemonia do FMI e Banco Mundial?

Por mais de oito décadas, o sistema financeiro global foi dominado por instituições criadas em um contexto muito diferente do atual — o FMI e o Banco Mundial, nascidos no pós-Segunda Guerra Mundial, moldaram as regras do jogo com os interesses das potências ocidentais no centro.

Hoje, pela primeira vez em 80 anos, existe uma alternativa real, funcional e em crescimento acelerado.

O Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NDB) já move bilhões em investimentos, conecta uma diversidade crescente de países do Sul Global e redefine paradigmas de soberania, cooperação e financiamento.

É importante entender que essa mudança não acontece da noite para o dia. Reestruturações geopolíticas são processos graduais, às vezes invisíveis no curto prazo.

Mas os alicerces já estão sendo construídos — projetos em infraestrutura, políticas de financiamento em moedas locais, a expansão rápida de membros, e a liderança de figuras históricas do banco como Dilma Rousseff, mostram que o sistema está em transformação.

Representação do futuro do sistema financeiro global
O NDB representa uma mudança estrutural no sistema financeiro internacional

Essa transição implica muito mais do que dinheiro e infraestrutura: significa um potencial real de um sistema internacional mais justo, multipolar e resiliente — onde países do Sul não sejam mais espectadores, mas protagonistas do seu desenvolvimento e da governança global.

Para quem acompanha o cenário econômico e político, ficar atento a esses movimentos é mais do que estratégico — é fundamental para entender para onde o mundo está caminhando.

Afinal, o que hoje parece uma alternativa silenciosa pode, em poucos anos, ser o novo padrão das finanças globais.

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Disclaimer: As informações apresentadas neste blog são de caráter educativo e não constituem aconselhamento financeiro personalizado. Consulte sempre um profissional qualificado antes de tomar decisões relacionadas aos seus investimentos ou planejamento financeiro.

Quer saber mais?

O surgimento do NDB é uma reconfiguração histórica que promete mexer com as bases do sistema financeiro mundial.

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